“SEU” ÂNGELO BARBEIRO

Sr  .    Ângelo barbeiro, um dos ícones parienses

Todos os bairros possuem seus ícones. São pessoas lendárias, que por vários motivos despertam nos seus conterrâneos,  um carinho todo especial.

Já vi várias referências no site,  tanto em fotos , como em comentários a uma pessoa que sempre despertou em todos os que com ele conviveram muita estima no Pari. Trata-se do sr. Ângelo Francelino Tessari,  uma pessoa que incorporava o antigo barbeiro. Pessoa digna, um líder nato,  inclusive dos seus muitos funcionários,  uns ficaram muitos anos ao seu lado, outras dezenas que ali no seu salão da Rio Bonito aprenderam o ofício e que se espalharam por este São Paulo. Os funcionários o chamavam de Chefe,  termo que todos os que o estimavam passaram a adotar.

Na sua cadeira passaram importantes personalidades ,  principalmente do bairro como padres,  médicos,  advogados, empresários, artistas, etc. A todos o sr. Ângelo atendia com o mesmo zelo,  com o mesmo cuidado,  tanto fosse uma pessoa importante como não. A cadeira tinha uma mística toda especial,  era o momento de pausa,  de reflexão e por que não? até mesmo de confissão,  o que transformava a cadeira do sr.Ângelo , num misto de confessionário com divã de clínica.

Todos que ali sentavam recebiam além de um corte de cabelo e ou de barba no capricho,  uma palavra amiga,  um bom conselho e às vezes um bom negócio. Sim,  porque ele também exercia a atividade de corretor de imóveis.

Após longos anos de atividade,  sr. Ângelo aposentou-se e passou a dedicar-se à profissão de corretor imobiliário, exercida até o final de sua vida com grande sucesso.

Nas reuniões e bate-papos,  sobre quais assuntos fossem,  a sua liderança se impunha. Às vezes as discussões tornavam-se acaloradas e ali estava a fleugmática figura do Chefe,  para impor equilíbrio à mesma. Sem intervir só observando e analisando os pontos de vista de seus interlocutores. Quando após uma longa discussão e para variar não se chegava a um consenso,  todos apelavam para a figura do Poder Moderador , O CHEFE!

Após alguns instantes de silêncio total, o Chefe pigarreava de leve,  pegava o rapé de sua bolsinha, dava uma cheiradinha,  assoava o nariz,  após um contido espirro e vinha com a infalível Sentença Final, que não merecia a menor contestação e é claro, com uma análise fria e comedida dos argumentos ,  ponto a ponto. A Sentença é claro, vinha acompanhada sempre e de forma sútil de um comentário irônico e jocoso. Ninguem mais discutia aquele assunto era o AMEM. Após a sua aposentadoria , o Chefe ainda continuou a exercitar a sua vocação,  para cumprir uma promessa que ninguem sabia qual era, o Chefe durante o ano ,  cortava em domicílio e de maneira gratuita o cabelo de 12 amigos uma vez por mes. Foi uma oferta insistente dele e não queria receber nada e de maneira nenhuma.É claro que os doze no final do ano, procuravam dar-lhe um regalo, uma lembrancinha,  que era recebida com muita relutância. Um dos 12 era o meu pai, outro era o pai do Nilton, os outros eu não lembro.

Uma característica sua era a unha comprida e bem cuidada do mindinho direito e quando alguem lhe comunicava a morte de alguma pessoa conhecida ele exclamava agitando aquele seu dedinho :” -pra lá, pra lá ,  hoje morre fulano , amanhã sicrano, depois beltrano” a que os seus fãs indagavam e o sr. Chefe? pra lá, pra lá e todos gargalhavam.

O Chefe faleceu a caminho do hospital, vítima de um infarto, ou seja uma morte rápida, sem sobressaltos, equilibrada como fora a sua vida. No carro do genro , Roberto e amparado por seu filho, Muricy a caminho do Na.Sra. do Pari, sentiu um aperto no peito exclamou : ” Ih, car…” e tombou nos braços de seu filho.

Foi uma crônica longa,  mas para falarmos dessa importante figura para a vida de muita gente no Pari, seriam necessárias, páginas e páginas. Ao Chefe, as minhas orações,  porque com certeza ele, acompanhado de sua esposa, a meiga dona Bê e de seu filho Dr. Muricy , estão ao lado do Pai eterno.                                    JAYME RAMOS

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