Pariense famoso

PERFIL

Markone, o mano da tatuagem

Dani Bolina, Juju Salimeni e outros artistas e celebridades já passaram por seu estúdio na Zona Norte

Nathalia Zaccaro | 09/05/2012

Markone: “Faço todos os tipos de desenho, sem preconceito”Markone: “Faço todos os tipos de desenho, sem preconceito”

Fernando Moraes

 

Bem próxima ao Canindé, estádio da Portuguesa, a diminuta Rua Padre Taddei, no Pari, Zona Norte, está fincada em uma das regiões expostas às enchentes do Rio Tietê, a cerca de 250 metros dali. Com a mesma força com que chegam as águas quando o rio transborda (felizmente, isso já não ocorre como no passado), uma inundação de repórteres especializados na cobertura de celebridades tomou conta da via no ano passado, quando a casa de número 29 recebeu a visita das curvilíneas Dani Bolina e Juju Salimeni, que ficaram famosas como dançarinas do programa “Pânico”. As duas se preparavam para gravar na pele diamantes como símbolo de amizade eterna. O tatuador escolhido foi o paulistano Marcos Vinícius Gonçalves, o Markone, que inaugurou há pouco mais de um ano seu estúdio nesse endereço e se tornou figura popular no bairro.

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Com a frequência incomum de rostos conhecidos no pedaço, despistar os curiosos na vizinhança tem sido mais difícil do que se livrar dos alagamentos, devidamente controlados por duas comportas instaladas por um serralheiro na entrada do estabelecimento. O local ganhou notoriedade pela presença de astros do rap, como Criolo (que ganhou uma maçã no braço) e Emicida (uma mandala chinesa no antebraço). De alguns meses para cá, passou a atrair também nomes da música pop, como Marcelo Mancini, líder da banda Strike. “Frequento as mesmas festas que a galera do hip-hop e acabo conhecendo as pessoas que gostam do estilo, como aconteceu com a Dani e a Juju”, explica Markone.

Marcelo Botta

 O rapper Emicida e o desenho de mandala chinesa: habilidade para destacar a imagem na pele negra

O rapper Emicida e o desenho de mandala chinesa: habilidade para destacar a imagem na pele negra

Nascido no bairro da Brasilândia, também na Zona Norte, o rapaz se aproximou do rap por meio do grafite, atividade que pratica desde 1995, com murais em lugares como o túnel de acesso à Avenida Paulista na região da Consolação. “Tinha alguns amigos tatuadores e sempre curti muito desenhar, até que em 2001 decidi me arriscar nesse ramo”, diz. O início foi no Tatuapé, Zona Leste, no finado Blackball Tattoo Studio. Em 2004, abriu um negócio próprio, o Markone Tattoograff, na Galeria Presidente, no centro, e só no ano passado se instalou no Pari, onde mora desde a adolescência.

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Um de seus diferenciais é a habilidade para desenhos na pele negra, em que usa técnicas de sombreamento que ajudam a figura a se destacar. “Ele representa muito bem a cultura das ruas”, considera o rapper Xis, que carrega uma rosa no braço assinada pelo amigo. A habilidade com os contrastes agrada também aos que têm pele mais clara. “Escolhi esse cara pela técnica incrível que ele tem com tinta preta”, comenta o cantor Badauí, vocalista da banda CPM 22, que há duas semanas saiu do estúdio com um símbolo vintage do Corinthians na perna.

Divulgação

 Badauí, da banda CPM 22: o símbolo vintage corintiano desenhado há duas semanas

Badauí, da banda CPM 22: o símbolo vintage corintiano desenhado há duas semanas

O time alvinegro é um dos temas recorrentes no trabalho do jovem de 33 anos, que é membro da torcida Gaviões da Fiel e já grafitou a fachada do clube. Sua experiência com o spray ajudou a definir outra especialidade: caligrafias rebuscadas. “Devido à minha origem de artista de rua, adoro criar letras, de todos os tipos”, conta. São também comuns as imagens de palhaços. “Eles, assim como nós, pintam o corpo e nunca são levados a sério”, compara. Na prateleira do estúdio, cerca de vinte bonecos com diferentes versões do personagem circense (alguns custaram mais de 500 reais) confirmam a predileção. O palhaço também estampa a logomarca do estúdio. “Coloquei um lenço cobrindo a boca para demonstrar que minha linguagem não é falada e um chapéu que representa a proteção das ideias na minha mente”, enumera, caprichando no papo-cabeça. O desenho, relata ele, é um dos mais cobiçados entre a clientela, mas só ganha a pele de alguns poucos selecionados. “Só faço em quem conhece profundamente meu trabalho”, avisa.

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Trata-se de uma das poucas restrições de Markone. “Faço todos os tipos de desenho, não tenho preconceito”, diz ele, que cobra a partir de 100 reais por trabalho e aceita até encomendas para banners de casamento. Ele considera um “ponto alto” de sua carreira ter sido um dos cinco latino-americanos escolhidos para inventar estampas para casacos, tênis e outros produtos da grife esportiva Puma, na coleção Tatt200, atualmente esgotada nas lojas. Como têm na cabeça uma verdadeira salada ideológica, muitos dos representantes desse universo do rap, de MCs a grafiteiros, torcem o nariz para parcerias empresariais. Markone dá de ombros. Gostou tanto da experiência que cravou o símbolo da marca internacional na própria perna.

Divulgação

 Juju Salimeni e, no detalhe, a frase “A alma guarda o que a mente tenta esquecer”: trecho de música dos Racionais MC’s

Juju Salimeni e, no detalhe, a frase “A alma guarda o que a mente tenta esquecer”: trecho de música dos Racionais MC’s

NA PELE DO ARTISTA
■ Nome: Marcos Vinícius Gonçalves
■ Idade: 33 anos
■ Tempo de profissão: dez anos
■ Especialidades: desenhos de palhaços (foto abaixo), caligrafias rebuscadas e símbolos relacionados ao Corinthians

Divulgação

Fernando Campos

 

■ Quanto cobra: a partir de 100 reais
■ Número de desenhos no corpo: “Perdi as contas faz tempo”
■ Outras atividades: grafiteiro e ilustrador para trabalhos diversos, inclusive banners de casamento.
■ Público estrelado: músicos do universo do rap e do hip-hop
■ Sede: Rua Padre Taddei, 29, Pari, Telefone: 9817-0220
 

 Matéria extraída da revista Veja.

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